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domingo, 8 de abril de 2012

POKÉMON


                           POKÉMON
     
Pokémon conta a história de Ash, um garoto que ao completar 10 anos sai de casa e parte em uma jornada mundo afora com o intuito de se tornar o maior dos treinadores pokémon! O que é um treinador pokémon? É uma pessoa que sai por aí retirando animaizinhos de seu habitat natural para trancá-los em recipientes minúsculos chamados de “pokebolas”, libertando-os apenas com o nobre intuito de os envolver em batalhas onde levarão muita porrada. O que os pokemons ganham com isso? Nada, mas os treinadores recebem alguns broches bem legais que, quando reunidos, permitem a eles acesso a novas batalhas onde seus pokemons apanharão mais ainda… Quão politicamente correta sua infância parece agora?
Enfim, Pokémon está na sua 183285734206 temporada e ainda faz um grande sucesso. Se no início existiam 150, atualmente existem 7859785 bonequinhos à venda, ops, pokemons a serem capturados, tendo o desafio de Ash (que ainda tem 10 anos após 865378437 temporadas) aumentado substancialmente.
Parece seu típico anime sobre criancinhas prematuras que saem por aí caçando criaturinhas com super-poderes? Ou será que não…
Na verdade, Pokemón trata de algo que diz respeito a todos nós; A jornada do herói. Jung, pai da psicologia analítica, defendia a existência de arquétipos no aparelho psíquico e dentre eles destacava o arquétipo do herói, que representa um modelo cujo destino deve ser seguido (Não, isso não significa que devemos todos treinarmos pokemons, embora a Nintendo queira que se acredite nisso) Mas o que seria um arquétipo? De forma simplificada, da mesma maneira que o corpo biológico possui uma história evolutiva que precede nosso nascimento, comum a toda a espécie humana, a psique também possuiria uma história comum registrada no inconsciente coletivo, sendo os arquétipos padrões de funcionamento psicológico universais que “habitam” essa camada psíquica.
A jornada do herói diz respeito à trajetória arquetípica ilustrada
Jornada do herói em Pokemón; 90% dela consiste em embrenhar-se entre os arbustos
amplamente nos mitos, sejam estes mitos histórias ancientes como as façanhas de Hércules, ou os atuais, como Pokémon. Essa jornada oferece um modelo encorajador e positivo para a vida, modelo esse que sendo arquetípico permanece no inconsciente, repleto de possibilidades. A importância das histórias heróicas em nossas vidas se dá devido a necessidade de modelos com os quais possamos nos identificar, de forma a permitirem-nos entrar em contato com essas potencialidades inconscientes que podem ser necessárias para a superação de uma situação adversa. Por vezes é necessário que o Ego, a consciência, adote uma atitude heróica a fim de “salvar o dia”.
Campbell trata da trajetória do herói a partir de alguns marcos, que vão desde o “chamado para a aventura” até o seu “retorno com o elixir”, passando o protagonista por vários encontros (com mentores e antagonistas) e dificuldades até que se complete o ciclo. Podemos afirmar que em Pokémon o chamado para a aventura é bem claro; Aos 10 anos Ash sai de casa, encontra seu “treinador de heróis”/ Professor Carvalho e segue rumo à aventura. É interessante notar que nesse primeiro estágio da aventura o herói se vê em frente a uma provação, diante da qual há dois caminhos a serem tomados; Pode ser engolido pelas trevas (o inconsciente coletivo) para depois ressuscitar (como na história de Jonas e a baleia), ou defrontar-se com essas mesmas trevas e vencê-las (como Sigfried e o dragão), mas para isso é necessário incorporar algo de seu poder.
Ao referir-se a mitologia Grega, Jung afirma que as figuras divinas são representações simbólicas da psique como um todo, podendo portanto suprir a força que o ego isolado não possui. Se considerarmos neste universo alternativo do anime os pokemons como representações desses seres “divinos”, não-humanos e dotados de poderes especiais, inclusive poderes da natureza (Zeus, morra de inveja do choque do trovão) podemos inferir que para vencer a ameaça de ser engolido pelo inconsciente coletivo (porque toda criança de 10 anos que sai por aí brincando com bichinhos que cospem fogo corre o risco de se queimar) Ash apropria-se de alguns de seus aspectos ainda inconscientes para combatê-lo, aspectos aqui compreendidos como os pokemons que captura. É claro, a tarefa do herói implica em uma exposição a riscos constantes, sendo que por vezes podemos depararmo-nos com alguns Charizards que fogem ao controle…
Embora a Nintendo não tenha intenções de permitir em breve que Ash alcance o “retorno com o elixir”, Pokémon pode ser encarado como um mito heróico moderno, que continua a inspirar crianças e adultos de todas as idades a enfrentarem adversidades… e consumirem joguinhos desenfreadamente.
E finda por hoje nosso momento de tédio reflexivo. Como se sentem sobre isso?

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